III. PODER
1. A ATRIBUIÇÃO DO PODER
"Não deixa de ser estranho que os seres humanos, tão ciosos da sua independência, admitam ceder poder. Não é, pois, a conquista de poder que interessa, em política, mas antes a atribuição de poder.
Não há o desejo inato de poder. Algumas pessoas ambicionam mandar, mas não todas, nem necessariamente as melhores. Também se pode dar o caso do chefe sublime ser aquele que não procurou o governo. Certo é muitos recusarem cargos de responsabilidade comunitária devido aos aborrecimentos que estes implicam.
Os melhores sistemas políticos são aqueles onde o poder não é conquistado, antes atribuído. Tem-se a certeza que prevalece o Bem Comum e não o interesse egoísta. Quanto aos que recusam servir a comunidade que os elegeu revelam falta de espírito de sacrifício, o que é deveras grave.
O poder é um derivado do amor, como fica claro ao estudar o microssistema familiar. “Ministro” é “quem serve”: servimos com alegria a quem amamos e sentimos que nos ama; sentimos que quem nos manda nos ama quando não rouba a nossa liberdade e antes nos protege e promove; se compadece.
As mulheres preferem ser mandadas pelos homens e os homens a custo se submetem às mulheres, facto comum em muitas outras espécies animais e que pode estar relacionado com os instintos de segurança e protecção. Obedecemos aos pais mas não aos irmãos, iguais a nós, eventuais adversários. A um estrangeiro jamais se dá o trono.
Portanto, preferimos outorgar poder a um homem, figura do Pai, mas admitimos obedecer a uma mulher, se esta não representar o feminino, mas a Mãe e a terra-natal – há grandes rainhas, mas não presidentas. O chefe não pode ser igual a nós, mas deve ter um vínculo ao nível profundo da terra e da cultura." - Mário Cabral in Diário Insular
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