quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Maranatha (13)


II. FUNDAMENTOS

7. TER A QUEM DEIXAR

"Nalgum tempo, no campo, lamentava-se assim quem não tinha herdeiros: «Tanto trabalho para quê, se não tem a quem deixar!». É uma exclamação elíptica e profunda: ninguém vive para si e ter só faz sentido se for para dar.
Só uma análise superficial vê na herança apenas terras e dinheiro; curioso serem os materialistas os maiores adversários da herança, como é o caso de Marx e Proudhon. Os bens materiais começam por ser um símbolo do amor: queremos encher de bens aqueles que amamos.
Também se usava a expressão: «Deixou os filhos “amparados”».
Compreende-se melhor com os maus exemplos: o primeiro já foi dado; o segundo é o seu avesso: «O pulha do filho deu cabo de tudo o que o pai levou uma vida a juntar»; o terceiro é este: pode herdar-se uma situação calamitosa; o quarto conhecem-no à abundância os advogados, que tentam desenriçar muitos casos de partilhas conflituosas por causa de menos de meio metro dum serrado que não vale nada. Etc.
O bom herdeiro compromete-se com aquilo que herda porque ama as coisas como presença simbólica daqueles que o amaram. O bom herdeiro não pensa na riqueza, antes é o guardião responsável da “casa”, isto é, da família, do sangue, do bom nome, da honra e de valores reais como estes. Ele sabe que nada é seu, que é um elo na corrente da Relação.
Atacar a herança é atacar Cultura, História e Memória. Haja em vista o que está a acontecer na Europa depois dos movimentos políticos modernos nascidos do Iluminismo.
Os tiranos sorriem com aqueles que não dão as mãos na linha hereditária.
Atacar a herança particular é o começo da morte da Pátria e, portanto, um suicídio político. A modernidade é internacionalista.
Os melhores de nós dão até aos inimigos.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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