III. PODER
9. A CIDADE ORIENTADA
"A planta duma cidade fala da sua vida profunda. Maranatha vai ter a forma duma cruz, onde o centro, o coração, será a praça principal; quadrada, cada um dos lados ocupado por um só edifício. Estes terão colunata, à imagem do Terreiro do Paço.
No meio, um belo coreto.
Num dos lados acharemos o palácio real, onde funcionarão todos os serviços do poder: senado, governo e tribunal.
Em frente, eis a igreja, com dois braços, à maneira dos antigos colégios de Jesuítas, onde estarão as escolas, precisamente, desde a primeira classe até à universidade. Acede-se ao templo por uma nobre escadaria, como deve ser; só as alas da escola terão peristilo.
O terceiro lado é constituído pela praça do mercado, só por si uma festa de alegria plena; e no quarto veremos o teatro, ou casa das artes. Debaixo das arcadas da escola e do teatro acomodam-se diversas oficinas, onde os alunos passarão parte do seu tempo lectivo, a praticar com os sapateiros, com os correeiros, com os diversos lojistas, com os pintores e os escultores, etc.
Atrás da igreja o cemitério, ladeado pelos pátios da escola. Bem ao longe, em linha recta, já entrado na floresta natural, um grande convento de clausura, onde funcionará o seminário.
Atrás do palácio, a cadeia, dentro do castelo, que albergará as Forças Armadas e o serviço militar obrigatório, apenas para varões; atrás do teatro, o hospital.
Note-se que não há bancos nesta praça – serão proibidos em Maranatha.
Todas as casas terão um quintal dum alqueire, começando aí os campos cultivados, em redor: as hortas, as estufas, os pomares, as cearas, o gado a pastar no silêncio.
Nem um único terreno abandonado às silvas!
Por todo o lado a geometria do trabalho da mão humana." - Mário Cabral in Diário Insular
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