segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Maranatha (11)


II. FUNDAMENTOS

5. LAÇOS

"Famílias grandes são barreiras contra a tirania, que é uma tentação do Estado. A família sente a sorte dos seus como sua, por causa do vínculo sentimental, que o Estado a custo consegue.
Um membro da família nunca é um número. Apoiam-se e não ficam dependentes do Governo. É a temível força do sangue e da terra natal (em Lisboa cumprimentamos pessoas que, na ilha, nunca foram nossas conhecidas).
Em Maranatha este género de laços e de pregas será altamente estimulado, contra a moda das sociedades lisas como folhas de papel quadriculado, onde as relações são abstractas e, pois, manipuláveis.
Não haverá asilos de velhos porque os avós são uma riqueza no lar. Para além de mais benévolos na educação dos netos, o que acentua a linhagem do amor, representam mais passado e mais história, forte adubo do presente. Mais: mostram o percurso natural a caminho da morte. Quanto mais gerações juntas, maior a libertação do materialismo. Para além disso, a memória é um antídoto contra a ditadura.
E há os tios e os padrinhos; os pais dos nossos primos também são filhos dos nossos avós; afinal a fonte é uma só; e, numa sociedade conservadora, os padrinhos garantem o futuro dos nossos filhos.
E há as famílias simbólicas ou metonímicas: a freguesia, o futebol, a religião… Numa freguesia de tamanho médio, todos os membros estarão ligados por via do parentesco. Ninguém estará fragilizado pela solidão ou pelo anonimato.
A sociologia chama a isto “capital social” e queixa-se de ele ter sido aniquilado nas megacidades modernas. “Capital” é um termo marxista, o que reflecte o materialismo da leitura, espécie de “mea culpa”.
Em Maranatha os laços não serão “capital, mas verdade, força, alegria, amor, vida.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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